quinta-feira, 15 de julho de 2010

Luni, Gueto, Fábrica Fagus e Skowa & a Máfia, meus queridos do Aeroanta


Na quinta-feira passada (8), tive o prazer de prestigiar a festa de aniversário do músico e documentarista Márcio Werneck, que completou 40 anos no dia 10 de julho. Desde o momento que recebi o e-mail de divulgação do evento fiquei alucinada com a programação e determinei que não poderia perder a oportunidade de rever os meus queridos do final dos anos 80 e começo dos 90. O show seria com a banda base do Fábrica Fagus, onde Márcio era o guitarrista e um dos vocalistas, e iria rolar a participação das bandas Luni, Gueto, Skowa & a Máfia, Gang 90, Nomad e quem mais chegasse. Podia perder? Jamais.

A festa foi tudo de bom e há muito tempo não me divertia tanto. Além dos shows, o evento, que aconteceu no Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, contou com vários DJs renomados e as presenças do CQC, de ex-jogador de futebol famoso, dos modernos e dos descolados da capital paulista. Mesmo sendo uma anônima na multidão, tudo me lembrou os meus sonhos e de como era feliz na época que freqüentava o Aeroanta. Em 1988 já tocava baixo na banda NB-8 e o que mais queria da vida era fazer e viver da música assim como toda esta galera.

Minha história com estas bandas começou por conta do programa jornalístico e de entretenimento TV Mix da Rede Gazeta. O programa tinha um formato novo para os padrões da época da televisão brasileira, era jovem, despojado e praticamente lançou para o mundo os apresentadores Serginho Groisman e minha também querida jornalista, Astrid Fontenelle. Numa das edições do TV Mix 2, a Astrid entrevistou a atriz Marisa Orth que foi divulgar a peça “Fica comigo esta noite”, onde contracenava com o garoto propaganda da Bombril, Carlos Moreno. Além da semelhança da atriz com uma amiga de infância, Marisa me chamou a atenção pelo seu jeito descontraído de ser e porque, ali, no programa, também divulgou o seu trabalho como vocalista da banda Luni. Pronto, foi amor à primeira vista. Simplesmente enlouqueci e assim começou a minha peregrinação por São Paulo atrás do Luni.

Nesta época, Marisa Orth ainda não era atriz global, aliás, ela foi descoberta por Silvio de Abreu justamente nesta peça “Fica comigo esta noite”, no qual, é claro, eu também assisti por duas oportunidades no teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. Ao perceber o talento da atriz para comédia, Silvio a convidou para interpretar a personagem Nicinha, na novela Rainha da Sucata, bem no horário nobre da Rede Globo.

Justamente pelo trabalho da atriz, o grupo Luni era performático, diferente de tudo que havia visto e o estilo musical era eclético, com muito suingue, soul, disco, rock e blues. Até ali, estava acostumada a ver shows de rock e a tocar pop rock e quando ouvi The Best, Táxi, Oi, Seu Olhar, Johnny, Emoção, Projeto de Lei, Cairo, Rap do Rei (tema da novela Que Rei Sou Eu) e ainda por cima uma mulher, Lelena Anhaia Mello, suingar num contrabaixo negro, nunca mais fui a mesma e dali por diante levei mais a sério meus estudos musicais e decidi realmente me dedicar e aprender todos os ritmos e tendências, tornando-se a técnica de slap minha maior obsessão. Minhas composições amadureceram nesta época, tanto na parte de ritmos, harmonia e também nas letras e a partir deste momento minhas canções puderam finalmente ser trabalhadas e gravadas.

Além do Aeroanta, fui atrás do Luni no Parque Ibirapuera, quando abriram o show do Gilberto Gil, no vão livre do Masp na Paulista, no auditório do Masp, no Dama Xoc, no Centro Cultural de São Paulo e no Tendal da Lapa para assistir o fantástico espetáculo musical “Nave Louca a Última Chamada”, que misturava teatro, circo e música. Lindo, puro e sensacional. E em tantos outros lugares que agora não me lembro mais.

Não era fã só de Marisa e Lelena, todos eram e são especiais para mim: André Gordon, Natalia Barros, Fernando Figueiredo, Lloyd Bonnemaison, Gilles Eduar e o Theo Werneck, que me inspirou a usar o símbolo da paz nas minhas roupas, brincos, anéis, cordões, e claro, anos mais tarde, o símbolo também virou um dos logos da banda Josie e foi através dele que ouvi pela primeira vez o termo "vibração positiva", no qual escuto tanto hoje na Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Na segunda fase do Luni, com a saída da Marisa Orth, a banda perdeu em performance, mas ganhou em musicalidade com a entrada do baterista Kuky Stolarski, e músicas como o Reggae das Crianças, Século XX, A Flor, entre outras, também encantaram os fãs e minha peregrinação pela cidade continuou. Infelizmente, o segundo disco não saiu e muitas músicas desta fase não lembro. Só sei que havia uma música que a Lelena deixava o baixo, pegava a guitarra e interpretava a canção. Isso também me encantou na banda, assim como os Titãs, todos cantavam e tocavam algum instrumento, todos tinham destaque.

Enfim, a nostalgia, às vezes, não é boa para a nossa evolução. Viver no passado é andar para trás, mas neste caso, fiquei tão feliz com a festa de quinta, é um pessoal com uma energia tão boa, tão do bem, que meu entusiasmo voltou, minha vontade de cantar novamente voltou e até de tocar baixo. Me envolver com a música outra vez, talvez seja o up que eu preciso para minha vida ficar mais divertida.
OUTROS AMORES
No final do ano de 1988, o TV Mix organizou a festa do seu primeiro aniversário, na outra casa badalada da época, o Dama Xoc, e neste evento, pude conhecer as outras bandas que passei a admirar e a freqüentar os shows. Gostava de todos e bastava saber que uma dessas bandas iria tocar no Aeroanta e lá estavam meus amigos e eu por lá. Esta festa foi marcada também pelo reencontro do Barão Vermelho com Cazuza no palco, e além da canja com seus antigos sucessos, tocaram uma das primeiras músicas gravadas da banda, o blues Bilhetinho Azul. Já bem magro e com o cabelo bem ralo, o cantor Cazuza não perdeu a piada e disse para os Barões: "eu continuo o mesmo, mas os meus cabelos". Este é o meu mestre.

E assim, não era só de Luni que vivia Nana Falavigna. O Fábrica Fagus tinha uma energia e uma juventude contagiante e algumas músicas, por mais tempo que eu não escutasse, vieram rapidamente na minha cabeça na quinta, sem contar as frases que cantarolo até hoje como: “mentira que Deus ajuda quem madruga, Deus antes de tudo dá graças na rua........porque lembrei, amanhã é dia de trabalhar; “todo mundo ligado, todo mundo dançando, não quero ver ninguém parado, ritmo quente, suingue, emoção”; “nos bailes da, nos bailes da, nos bailes da vila”; “as unhas bem feitinhas e perninhas que só ela, mas eu não digo nada. Eu te espero, mas me paquere, eu te espero, mas me paquere”. Eram músicas como essas, Gravidade, Mal Necessário, Mameluco’s Groove, Ritmo Só, Cenografia que nos faziam vibrar e dançar em cada show que íamos.

Na banda Skowa & a Máfia também havia uma baixista, a Kiki Vassimon, e mais duas mulheres nos sopros, Liege Rava no saxofone e Monica Doria no trompete e ainda por cima, nomes que até hoje estão mais vivos do que nunca na MPB, como o próprio Skowa, o percussionista e baterista James Muller, o guitarrista Tonho Penhasco e os vocais Chê Leal e Bukassa Kabengele. A música África Brasil sempre me emocionou a ponto de arrancar lágrimas dos meus olhos toda vez que ouvia ou cantava. Era a história e cultura negra tocando lá no fundo da minha alma, pois também "eu sou neguinha".

O Gueto nem dá para falar e expressar tudo que sinto pelo trabalho deles. Simplesmente gostava de todas as próprias, e os covers das músicas The Lady don’t Mind do Talking Heads e Cruisin do Smokey Robinson foram interpretações inesquecíveis. O som da banda era com muito, mas muito suingue mesmo, além de muito falsete do vocalista Júlio César, muita guitarra suingada e distorcida do Márcio, muita pulsação do baixista Marcola e muito beat e pegada do baterista Edson X. Esses quatro garotos na zona norte eram os caras. Como li outro dia, com certeza o Jota Quest foi influenciado por eles, mas apesar da fama, não chegaram perto do importante papel do Gueto no cenário pop rock nacional daquela época. Uma pena que as gravadoras e a mídia nacional não deram a devida importância e o sucesso ficou mais por aqui, no circuito alternativo da cidade e com isso, apenas dois discos foram gravados.

É isso, vinte anos se passaram e ao ver todo este pessoal percebi que o meu amor continua o mesmo, continuo uma fã incondicional de todos. Poderia conversar como musicista com eles, mas não, sou tiete, e desde que a Rita Lee compôs a música Ti, Ti, Ti onde o refrão diz: “nada mais furado do que papo de tiete”, procuro ficar na minha perto de artistas que admiro para não ser chata e nem incomodar, mas adoro vocês, meus queridos do Aeroanta.
Paz & Música!
Nana