quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Garagem do Zeca

Uma das coisas que mais sinto falta na minha vida, da época que meus amigos de infância e eu ainda andávamos em bando, é da garagem do Zeca. Isso durou bastante tempo, frequentei a garagem dos meus 16 anos até os 27 anos, quando meu melhor amigo casou. Quase entrei em crise quando isto aconteceu. Todos achavam que tínhamos um amor secreto, inclusive Dona Fernanda, sua mãe e seu Vitório, meu pai. Contudo, não era nada disso, era muita amizade mesmo, que dura até hoje.

A famosa garagem começou a ser freqüentada pelos moradores da Rua 5, lá por volta de 1985, quando os meninos arrumaram cavaletes e uma tábua enorme e dela, fizeram uma mesa de ping-pong. Deste momento em diante comecei a desenvolver meu talento para este esporte, rs....e muitas histórias começaram a desenrolar naquele lugar.

Todo mundo passava por lá para jogar uma partida, inclusive quem não era da rua, e assim, a garagem do Zeca foi ficando cada vez mais famosa. Minha turma era um pouco mais velha, os caras já tinham carros, já saíamos para as danceterias da vida, porém, me identifiquei com aqueles meus amiguinhos da rua que eram uns dois anos mais novos que eu e por lá fui ficando. Neste período, meu carma de namorar seres mais novos já havia começado.

No entanto, nem tudo era tranqüilo. Como todo jogo, sempre tinha uma briga aqui e outra acolá. O Poeta, uma vez que ganhei uma partida por 7 X 0, jogou a raquete em mim e quase acertou minha cabeça. Várias outras brigas aconteceram e eu, sempre estava envolvida nas confusões, uma delas foi para defender minha amiga Rosaninha. Mas, não por que era encrenqueira, sempre fui da paz, porém, meu senso de justiça sempre reivindicava alguma coisa e por mais que ninguém assumisse, no fundo, no fundo, os meninos sempre ficam incomodados com uma Luluzinha no Clube do Bolinha.

A garagem do Zeca é daquelas fechadas, com aquela porta pesada de bares e ali, além do ping-pong, era perfeita para os ensaios da minha primeira banda que se chamava NB-8. Em 1986 começamos o barulho, os meninos vieram me contar que iriam montar uma banda e quando me disseram a formação, eu disse: “ué, mas banda sem baixo não existe!!” e foi assim que fui convidada para fazer parte do grupo. Todos nós, Zeca, Emerson, Éder e eu começamos a estudar os instrumentos simultaneamente com o começo da banda. Então, era quase um Deus nos acuda. Mas, seguimos firmes e fortes até 1990.

Levados pela febre do RPM, a primeira música que conseguimos tocar inteira foi “Rádio Pirata”. E depois pela facilidade dos três acordes trincheiras (meio acorde), tocamos várias músicas da banda Garotos Podres. É, isso mesmo, punk rock, entre elas, Anarquia e Papai Noel Velho Batuta.

Na verdade, foi a única banda que tive com verdadeiro espírito de banda. Sonhos juvenis, união, objetivo, poupar dinheiro para comprar aparelhagem, fazíamos tudo junto. Os shows sempre foram grandes aventuras, mas, com o tempo nos desenvolvemos e chegamos a tocar em algumas apresentações com um certo destaque no bairro e até em um barzinho no Campo Belo. Passaram pelo NB-8 quatro vocalistas, o primeiro foi o meu ex-namorado, o Mauro, depois, juntos, um vocal masculino, o nosso também amigo de infância Marcel e uma vocalista, a Mônica, uma amiga de faculdade da Claudinha. O último vocalista foi o Douglas, um colega meu de classe e que namorava a nossa amiga Rosaninha.

Foi muito bom enquanto durou e como tudo na minha vida que acaba, chorei muito. Queria continuar seguindo com eles, mas, cada um foi por um caminho e só eu continuei com a música, aliás, meu sonho, como já contei neste blog, não começou com eles, iniciou seis anos antes, quando virei fã da Rita Lee. Quando os meninos tiveram a idéia de formar a banda, já tocava um pouco de violão e já tinha uma guitarra. Mesmo depois que o NB-8 acabou, cheguei a ensaiar com minha outra banda lá na garagem do Zeca, ela fazia parte da minha vida, era praticamente minha, que a Dona Fernanda não saiba disso. Tanto é que, o Zeca me deixou como herança depois do casamento, seu amplificador e uma super caixa de som.

Fora os ensaios da banda, a garagem servia também para batermos papo, era o ponto de encontro para sairmos para as baladas, o famoso esquenta. De lá, quantas vezes saímos para comer alguma coisa e depois ir para o Aeroanta, ou em outro lugar qualquer da cidade. Saíamos em comboio, um carro atrás do outro, como eu amava muito tudo isso. Me lembro quando fomos num bar de dois membros da banda Titãs, em Pinheiros, na rua Cristiano Viana e o Zeca jura até hoje, de pé junto, que viu a Malu Mader atrás da cortina. Afff, maluco beleza ou um grande mentiroso? Só este meu amigo Zeca mesmo! A Malu poderia até estar lá, mas porque ficaria escondida atrás da cortina?

Além de jogos de carta, encontros amorosos na surdina, no qual o Zeca e eu éramos sempre testemunhas, menos quando o encontro era comigo. Também havia alguns assuntos proibidos que jamais poderei escrever por aqui e pasmem! Até batida da polícia rolou por lá! Onde já se viu?! Suspeita de consumo de maconha. Isso não foi nada engraçado, me senti ultrajada com aqueles policiais cheirando minha mão, fora que fiquei proibida de freqüentar a garagem. Meu pai ficou muito bravo com esta história e não queria mais me ver por lá. Mas, ia mesmo assim, principalmente durante o dia quando ele estava trabalhando.

O sagitariano aceita tudo, menos ser proibido da sua liberdade de ir e vir. Contudo, sempre respeitei o meu pai, morria de medo dele naquela época e tentei evitar um pouco minha garagem querida. Mas que culpa tínhamos nós se dois policiais sem graça resolveram invadir nossa praia?! Na verdade, éramos tão ingênuos, pois a garagem por ser fechada, fazer parte de uma residência e por eles não terem um mandado de busca, não podia ser vasculhada daquela forma. No entanto, entraram e fizeram de nossas vidas um pequeno inferno.

Nossas aventuras na garagem duraram até 1997 quando o Zeca casou, por sinal este casamento foi histórico também, foi muito bom, divertido, uma loucura. Ana Clara, sua esposa, é pessoa para lá do bem, ela, ao contrário da maioria das namoradas dos meus amigos, não tinha ciúmes da nossa amizade. Somos amigas e sempre freqüentei seu apartamento lá na Vila Mariana, apenas agora que mudaram para a Zona Norte que ficamos mais distantes, mas no meu aniversário de 40 anos, eles me prestigiaram.

A partir deste ano de 97, nosso ponto de encontro durante cinco anos, passou a ser no Benet’s, um bar na Chácara Santo Antonio e novas pessoas entraram para a trupe, a Ivone, a Paola, a Marta, o Antônio, a Luciana, o Moisés, o Rogério, a Luciana, esposa do Tico e a Aniella. Lá fomos muito felizes também e conheci o grande amor da minha vida. Ahhh! São tantas histórias para contar, tanta saudade, tanta lembrança boa. Mas, acabou e quem está sozinho, como eu, vai se ajeitando com novos amigos, tentando novas possibilidades. O que importa é que aproveitamos bem. Curti meus amigos e curto até a última gota toda vez que tenho uma oportunidade de revê-los.

A garagem continua lá, agora está purificada, Dona Fernanda faz encontros de crochê com as senhoras da igreja do bairro. Passo na frente todo dia e fica a saudade de um tempo muito bom e que não voltará mais. É a vida! E o que se leva dela, são apenas esses bons momentos.