terça-feira, 29 de setembro de 2009

Moradores em situação de rua

Uma das minhas responsabilidades na nova função que exerço me permite andar pelos quatros cantos da cidade. Do extremo da zona sul, Parelheiros, ao extremo da zona leste, Cidade Tiradentes, São Miguel Paulista e Ermelino Matarazzo. Nunca imaginei que um dia iria aos lugares que vou agora e acho isso muito gratificante. Enriquece meu senso de justiça, uma vez que sempre fui de esquerda justamente por priorizar o lado social.

Durante os 20 anos de Ditadura Militar, os professores tiveram que ficar em silêncio, principalmente depois da instituição do AI5 (ato institucional nº 5), de 13 de dezembro de 1968, onde tudo que fosse falado era subversivo e os comunistas eram literalmente caçados, pois foi formado o CCC (comando de caça aos comunistas).

Sendo assim, a didática nas escolas também sofria censura. E além de fiscalizar o que estava sendo passado para os alunos, foi instituído as disciplina de Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política do Brasil) para enaltecer o governo militar. A frase Ame-o ou Deixe-o era o slogan da Ditatura no início dos anos 70.

Porém, após o término da Ditadura Militar, nos meus 16 anos, exatamente em 1986, quando os professores voltaram a falar sobre política, abracei a causa socialista naquele entusiasmo de querer mudar o mundo que só a juventude tem. Contudo, não era a favor do socialismo onde tudo é do governo, o que também acabou virando uma grande e cruel ditadura nos países que estabeleceram este sistema. E tudo que sufoca o povo não consigo aprovar. No entanto, comecei a priorizar que todos os cidadãos deveriam ter pelo menos o direito ao básico, ou seja, saúde, educação, moradia, saneamento básico, alimentação e lazer, diminuindo assim, as diferenças sociais que são gritantes nos países de terceiro mundo. Atualmente o Brasil faz parte do bloco do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), países considerados emergentes, em ascensão econômica, no entanto, ainda estamos muito longe de resolvermos todos os problemas sociais deste país.

Esta andança por toda a cidade me possibilita ver de perto o que sempre quis que melhorasse. Bem ou mal, bastante coisa está sendo feita pela atual administração, mas, sabemos que pela deficiência de todos esses anos de descaso, a cidade cresceu sem organização e muito ainda precisa ser feito.

Entretanto, o que mais me dói não são as favelas, as invasões ou as casas de alvenaria construídas sem planejamento, tornando esteticamente a periferia da cidade nada agradável para os olhos. Nestes casos, de uma forma ou de outra, as famílias, as pessoas, possuem uma casa para se protegerem do frio, do calor e da chuva. Tem favela por aí muito mais organizadas que algumas comunidades. O mais triste de ver, meus amigos, são os moradores em situação de rua.

Sim, eu sei que muito deles não querem ter um lar, não aceitam ir para os albergues. Mas, o que vemos são famílias inteiras morando embaixo de viadutos, nas calçadas, nas praças, nos cantos não só do centro, mas, de toda a cidade de São Paulo. Sem contar, as crianças cheirando cola e fumando crack. Não é preciso ir até a cracolândia, na Nova Luz para presenciar essas imagens, vemos no centro todo crianças drogadas, homens alcoolizados e mulheres em situação física e moral degradante.

Existe Secretarias apenas para cuidar deles, ONGs, instituições privadas que tentam ajudar. Como é difícil ver o que se passa por aí, nos sentimos impotentes diante de tanto abandono. De quem é a culpa? Do governo? Da sociedade? Das igrejas? Das cidades grandes? Realmente não sei dar uma resposta para este problema. Só sei que às vezes, o pouco que parece insignificante, pode ser muito para quem está passando frio e fome na rua.

Em pleno inverno de julho, naqueles dias gelados da madrugada de São Paulo, li no caderno Cotidiano, do Jornal Folha de São Paulo, que um grupo de ciclistas urbanos comprou cobertores e distribuiu para os moradores de rua na região da Paulista e dos jardins. Outros grupos também de pessoas do bem, distribuem sopas, que além de alimentar, aquece a alma desta parte da população. Isso não resolve o problema, mas ameniza a dor, o frio e a fome de quem está nesta situação.

Como escrevi acima, muitos rejeitam qualquer tipo de ajuda e preferem ficar vagando por aí, mas a maioria realmente está nessa situação por falta de condições financeiras, de recolocação no mercado de trabalho e por não terem uma família pra contar. Triste realidade. E nós? Eu mesma me fecho dentro de casa remoendo pequenos problemas. Triste por não ter um amor, angustiada por coisas que não chegam aos pés de não ter uma cama quente para dormir, um lar, uma família, amigos. Sei que cada um sabe onde o calo dói, angústia faz parte do nosso cotidiano, no entanto, passear um pouco por aí, encarar a realidade frente a frente é bom para lembrarmos o quanto somos privilegiados em possuir uma casa, um emprego, carro, amigos, direito a férias e lazer.

Não é fácil. Para tentar acertar todo esse problema, o trabalho a ser feito é muito maior do que de solidariedade. É um trabalho árduo, de reestruturação social e nós, que sonhamos por um mundo melhor, temos duas funções, ou o trabalho de solidariedade, ou fiscalizar quem colocamos no poder para resolver os problemas sociais deste Brasilzão afora, desta cidade de pedra, desta cidade que trabalha e nunca para, desta cidade que move o mercado financeiro, desta gritante diferença social, onde têm pessoas que nunca chegaram nem próximas a um bairro da periferia.

Agora uma coisa é fato, não podemos fazer isso sozinhos. O lance é barra pesada. Se quisermos ajudar é melhor buscarmos uma ONG, uma instituição que já faça isso e nos inscrevermos como voluntários. Eles possuem toda uma organização, logística e preparação para este tipo de ação social. Gente, arregaçar as mangas não é fácil mesmo, a realidade é dura, eu, por exemplo, fico aqui escrevendo e também não faço a minha parte. Minha intenção não é dar lição de moral em ninguém, é despertar a todos e a mim mesma da realidade deste planeta terra.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Salvador - Praia, sol, mar, música e muitos amigos!

Foto: Aline Widera
Farol da Barra - Salvador - BA

Mais umas férias, mais um ano em Salvador hospedada sempre com muito receptividade e atenção na casa da minha amiga paulista, Marta Camargo, que há dez anos nos deixou e mora na Praia do Flamengo, última de Salvador, sentido litoral Norte, divisa com o município de Lauro de Freitas. Sua casa é tão graciosa, tão praia, tão armação ilimitada que a chamo carinhosamente de Pousada da Dona Marta. Em setembro, antes mesmo de chegar a primavera, a Bahia já é quente, com muito sol, um mar maravilhoso e chuvas que do mesmo tempo que chegam rápidas, vão embora e novamente o sol se abre para aquecer nossas almas.

Apesar do sol forte, a brisa, pelo menos neste período do ano, refresca e o clima fica agradável, não é aquele calor infernal, abafado de São Paulo. Porém, o que mais me encanta em Salvador é seu povo, a receptividade, a facilidade com que se faz amigos. Sem contar a cultura, as manifestações artísticas e a música, totalmente baianidade nagô.

Este ano não fiz turismo, mas não posso deixar de falar do Pelô, da igreja de São Francisco e Nosso Senhor do Bonfim, do elevador Lacerda, do Mercado Modelo, da Lagoa do Abaeté, do Farol da Barra ao Jardim de Alá, das praias de Amaralina, Jaguaribe, Pituba, Piatã e das tarde em Itapuã. Mesmo sendo furtada por um trombadão nas calcaças de Itapuã, onde o meliante levou a câmara digital da minha irmã Rosely, tudo para mim por lá é sempre encantador e não me assustou nem um pouco.

Não houve armas, nem faca, nem cacos de vidro, como acontece em São Paulo, apenas marcamos touca e o trombadão tirou a máquina das mãos da minha nova amiga carioca que mora em Salvador, Ana Zanella. No entanto, tanto ela, como a Marta, duas atletas de ponta, ainda tentaram recuperar a câmera digital, correndo como loucas pela orla de Itapuã atrás do ladrão. Uma loucura de momento, mas que mostrou a amizade, carinho e preocupação. Elas ficaram indignadas, pois estávamos tirando uma foto de "uma tarde em Itapuã" e o estraga prazer acabou com a nossa homenagem aos cantores, poetas e compositores, Vinicius de Moraes, Toquinho e Dorival Caymmi.

Mas o que me faz mesmo querer morar em Salvador é a facilidade de fazer amigos e bons amigos. Um povo atencioso, alegre, hospitaleiro, me sinto muito querida nesta cidade. Na verdade teve um dia que me senti uma celebridade. Uma amiga de Marta, queria saber quem era a Nana, que todos diziam que ia chegar, que estava em Salvador, coisa e tal. Até brinquei com Marta, quando ela me ver, vai dizer: "Esta merdinha é a Nana!", pois como sabem sou baixinha, magra, ou seja, pequenininha. E no primeiro momento, como sou tímida, nem sou tão falante, tão sociável. Preciso sempre de um tempo para conquistar a amizade dos outros, porém, em Salvador, a receptividade dos baianos colabora com esta minha timidez e tudo flui como se todos fôssemos amigos de infância.

Sempre quando vou para lá, volto para São Paulo meio em crise. Desta vez não voltei mal, mas me emocionei muito ao me despedir da Marta, ao me despedir dos velhos e novos amigos, ao me despedir de Salvador, ao decolar e ver do céu aquele mar esverdeado e toda vez que lembro das coisas boas que me acontecem quando vou para aquela cidade do bem. Tenho muita vontade de morar em Salvador, mas, sei que no momento é impossível, por causa da minha nova carreira profissional e principalmente por causa dos meus pais. Hoje quem cuida deles somos nós, Rosely, Maurício e eu.

Algumas coisas poderiam adiantar este projeto de vida, mas, ainda não foi desta vez. Contudo tive boas surpresas e com certeza amizades que não serão apenas de umas férias, serão amizades que durarão para sempre. Se Deus permitir, eu volto e cada vez em períodos mais curtos de tempo, pois a concorrência das novas companhias aéreas facilitam a cada dia a vida daqueles que gostam de viajar e que têm famílias em outros estados. De uma certa forma, a globalização não é tão nociva assim. Hum, se meu professor Henrique ler isso, estou frita!

Mesmo quando Marta não podia estar comigo, sempre tinha um amigo cortês para me fazer companhia e se não tinha todos os dias é porque a Praia do Flamento é 30 km do centro de Salvador. Conheci novos amigos e amigas, aqueles que abrem suas portas e que te convidam para uma próxima vez ficar hospedada próximo ao centro. Na Pousada da Dona Marta, no Flamengo, porém, já sou local, fico à vontade, até indicando onde ficam as barracas. Lá é o tipo de praia de veraneio, um sossego, onde eu podia caminhar sozinha na praia por horas, mergulhar no mar para deixar as ondas levarem as energias negativas do meu corpo e à tarde, andar de bike. Quase virei uma atleta, pois às vezes também nadava na piscina do Village de Marta. Sem falar a Gildete que nos fazia uma comida divina e o seu Zé sempre tão bacana. A Cynthia me convidando para o churrasco gaúcho, preparado pelo seu marido Cláudio, me levando torta de capuaçu e tantos outros personagens desta praia, como a lendária Betina, o Lima e o Airton do quiosque, que mesmo quando não pedia, ele me trazia água de coco após minhas caminhadas na beira do mar.

Tem o pessoal das baladas, todos sempre adoráveis, divertidos e totalmente do bem. A Dani, figura total, Lai e Fabiana sempre tão atenciosas, Luciana que se deslocou de longe apenas para me dar um abraço, Neila com sua voz, nos encantando no seu grupo de samba Chita Fina, Poliana quebrando tudo na percussão também no grupo Chita Fina, a Ana, minha nova amiga e confidente, já sabe tudo de minha vida, fez almoço pra gente, pudim e um cheesecake maravilhoso de goiaba e Jac, minha mais nova amiga, que sabe tudo sobre espiritualidade e com isso, nossas conversas sempre fluem naturalmente. Sem contar, Elmo, Isinha, Jorá, Jocá, Paulinho, Rai e tantas outros que conheci em 2007 e agora em 2009.

Ainda temos a outra galera da Marta, aqueles que a receberam de braços abertos em 1999 e a socorreu nos momentos difíceis e a acolheram nos momentos alegres e que também tive o prazer de conhecer em 2006 e revê-los nesta minha atual temporada por lá. Sua quase irmã, Claudinha, o Lua, campeão de surf baiano de longboard e sua mulher Cecília, no qual o filho Otávio é afilhado de Marta, a Anita, ex-personal trainer da Daniella Mercury e agora professora de Yoga conceituada e que mora em Barcelona, o Alê, a Vivi, a Alessandra, poxa vida é tanta gente, que espero não ser injusta e ter falado de todos.

No comemoração oficial do aniversário da Marta, na Borracharia, uma danceteria alternativa de Salvador, localizada no Rio Vermelho, que é mesmo uma borracharia durante o dia e que tem um visual totalmente underground à noite, todas as tribos estavam reunidas. O DJ Roquinho tocou tudo de bom dos anos 80, inclusive Michael Jackson, foi uma arraso esta festa. Meu querido Aeroanta virou fichinha perto deste local tão crazy.

E também tão poderia deixar de falar do adorável Creperê, da Fátima e da Cláudia, onde faço questão de ir pelo menos umas duas vezes cada vez que vou para lá. Um crepe maravilho, tanto os salgados, como os doces, com uma carta de vinhos bacana e um ambiente totalmente acolhedor e encantador. E a Marta, é claro, que sempre acolhe seus amigos paulistas com a maior boa vontade do mundo. Sua casa sempre têm hóspedes que sempre voltam, pois o tratamento é da melhor qualidade, têm suas regras e toda regra tem que ser respeitada, é a lei do amor sendo aplicada: "amai a Deus sobre todas as coisas e o próximo, assim como a si mesmo" e para que tudo funcione bem, é tudo bem simples, é só não fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem para nós mesmos.

A vida é dura, é de luta? Sim, mas fazer o bem é muito simples, é só pensar desta maneira e tentar agir assim. Daí, ninguém fica mal, ninguém desrespeita o espaço do outro e tudo flui da melhor maneira possível.

Obrigada Marta, obrigada amigos, abrigada terra abençoada!

"Salve Salvador, o negro é raça é fruto do amor, Salve Salvador. Eu queria que esta fantasia fosse eterna, quem sabe um dia a paz vence a guerra e viver será só festejar" - Prefixo de Amor (Baianidade Nagô) - Alexandre Peixe


Paz, Música & Amor


Nana