segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os problemas dos grandes centros urbanos e da periferia das cidades


Todas as pessoas deveriam passar por algumas experiências na vida. Uma delas é encarar de perto a realidade dos centros urbanos e outra, é encarar a realidade das periferias das grandes cidades do Brasil. Não pelo simples fato de que ver o sofrimento e as misérias do mundo vá contribuir para o crescimento moral, mas, porque é importante saber que a vida não é apenas um mar de rosas. Acho muito importante que todas as classes sociais se preocupem e saibam que ninguém veio ao mundo a passeio.

Conheço pessoas que nunca foram aos bairros da periferia da cidade de São Paulo. E digo isso, não porque agora, por causa da minha função, eu ande por todos os cantos da cidade, e acho que todos deveriam fazer a mesma coisa, mas porque acho importante. Mesmo antes de entrar para este novo ofício, já conhecia os dois lados da moeda, mas fui conhecer esta realidade após meus 18 anos e sei muito bem como é viver num mundo de fantasias.

Tem gente que tem pavor do Centro e agradece todos os dias por trabalhar longe dele, dizem que cheira mal, que é feio, tumultuado, cheios de mendigos e trombadinhas. Realmente vemos de tudo por aqui e como já falei outro dia, é onde fica a maior concentração de moradores em situação de rua, dos nóias do crack, dos ambulantes, das ciganas e tantos outros. Em algum lugar existe realmente um cheiro fote de urina, mas, acho importante convivermos com toda esta diferença. Ninguém quer ver o feio, o estranho, mas por enquanto o mundo é assim e vivermos alienados de tudo isso só para não sofrer, para não ferir nossos olhos é fugir da realidade.

Andar pela periferia também é importante. Ver e sentir que a cidade não tem infraestrutura para toda esta população, que se amontoa nos morros e nos terrenos e vão se multiplicando, correndo risco de doenças, deslizamentos, convívio com traficantes, falta de lazer, de escolas e de hospitais. As autoridades sempre são cobradas, são acusados de abandonar toda esta gente, mas, nos últimos 10 anos, pelo menos aqui na capital paulista, acho que algumas coisas estão sendo feitas e existe uma real preocupação com o desequilíbrio social. Mas os problemas são muitos, e ainda bons anos vão precisar para chegar perto de uma justiça social mais otimista.

O Importante é que sempre tenha uma continuidade nos projetos e programas que estão dando resultados. Com isso, quem sabe, não será mais chocante para ninguém andar nos Centros das grandes cidades e nem na periferia. Por exemplo, aqui no Centro de São Paulo temos que ficar preocupados mais com os nóias do crack que para conseguirem a droga são capazes de qualquer coisa. Aqui é muito difícil presenciarmos um assalto com arma de fogo. Aliás em dois anos que trabalho por aqui, nunca presenciei um assalto. Mas sei que existe, com facas e cacos de vidros. Já nas periferias e mesmo em outros locais da cidade, o grande problema de violência é com bandidos mesmo, com armas na mão, ou pior ainda, com armamento de guerra.

Concluindo, é bom conhecermos o feio para valorizarmos cada dia mais, o belo. Mudar o mundo com as próprias mãos é impossível, mas se todo mundo pensar numa sociedade mais justa, quem sabe um dia, não veremos mais moradores em situação de rua e nem uma população sem oportunidades de moradia, de saúde com qualidade, de educação eficaz, de saneamento básico, de acesso à Cultura e de lazer.

No entanto, para isso, todos precisam conhecer a realidade das coisas da vida, pois uma coisa é certa, sempre nos sensibilizamos com as tragédias que acontecem no mundo e existe sempre uma grande comoção e solidariedade para ajudar os desabrigados de alagamentos, de terremotos, de tsunamis e de guerra. Penso que, se todos conviverem ou pelo menos conhecerem a realidade do dia a dia, do cotidiano dessas pessoas, também haverá uma comoção e uma necessidade de ajudar de alguma maneira: através de doações, cobrando as autoridades medidas sociais mais justas, trabalho voluntário ou pelo menos com um olhar sincero, amigo e consolador.

Censo 2009

O último censo realizado no fim do ano passado sobre a quantidade de moradores em situação de ruas foi publicado no começo de março deste ano e segundo a Folha de São Paulo, houve um aumento de mais de 50% nesses últimos 9 anos. O crescimento foi de cerca de 8 mil para 13 mil pessoas e o fato se deu devido ao consumo de crack e álcool, desemprego e falha em políticas sociais. A faixa etária atingida foi entre 12 anos até cerca de 30 anos.